“Quando se ama tudo é alegria, a cruz não pesa, o martírio não se sente, vive-se mais no Céu que na terra.”
Primeira santa carmelita latino-americana, Santa Teresa de los Andes nasceu em Santiago do Chile, em 13 de julho de 1900, numa família católica e aristocrática. “Jesus não quis que eu nascesse como Ele, pobre. E nasci no meio das riquezas, mimada por todos” – escreve em seu diário.
Seus biógrafos coincidem em ressaltar que ela era sempre o centro das atenções onde estivesse, pela sua amabilidade, graça e simpatia. Era alegre e comunicativa, mas também séria e de um temperamento enérgico.
Suas brincadeiras eram animadas e entusiasmadas. À sua casa acorriam muitos parentes e amigos. Uma tarde anunciou a todos os seus irmãozinhos e primos que presenciaram algo nunca visto por olhos humanos. Eles teriam o privilégio de assistir à Assunção da Santíssima Virgem. Os meninos se puseram diante de uma mesa sobre a qual estava uma imagem de porcelana da Virgem Maria, com uma coroa de metal. Juanita escondeu-se atrás de um biombo e “magicamente” a imagem começou a subir, ante a admiração dos pequenos, até desaparecer por trás de um cortinado. O “milagre” tinha sido operado por Juanita por meio de um delgado fio amarrado na coroa da imagem.
Quando se tratava de brincar, era a primeira de todas, a mais animada, a mais alegre, a mais ativa. Na fazenda Chacabuco, de seus pais, andava a cavalo montada de lado como uma grande dama. Era difícil ultrapassá-la nos passeios a galope com seus irmãos e primos. Nas férias, no balneário de Algarrobo, perto de Valparaíso – num ambiente de pudor e compostura hoje difícil de imaginar – era ela uma ousada nadadora. Jogava tênis. Fazia caminhada com as amigas.
Mas sobretudo contemplava. Em carta a uma amiga, escrevia: “Não podes imaginar paisagens mais bonitas que as que víamos… colinas cobertas de árvores e no fundo uma abertura onde se via o mar, sobre o qual se refletiam nuvens de diversas cores. E, por trás, o sol ocultando-se. Não podes imaginar coisa mais bela, que faz pensar em Deus, que criou a terra tão formosa. Que será o Céu? – pergunto-me muitas vezes.”
E à Madre Priora do Carmelo que a iria acolher, contava: “O mar, em sua imensidade, me faz pensar em Deus, na sua infinita grandeza. Sinto então uma sede do infinito.” Estando já no Carmelo, e sabendo que sua mãe passaria férias de novo na mesma praia, lhe escrevia: “Cada vez que a senhora olhar o mar, ame a Deus por mim, mãezinha querida.”
Na vida hostil, impura e materialista de nossos dias, é difícil entender o que era o afeto existente nas famílias católicas, há poucas décadas. Vejamos, a título de amostra, alguns trechos de uma carta que Juanita escreveu a seu pai, o qual ficara no campo trabalhando, enquanto a família passava férias de verão no balneário de Algarrobo. Depois de narrar-lhe belos passeios e exercícios de natação, Juanita manifesta a seu pai seu filial carinho: “Como o senhor vê, paizinho, não falta mais que o senhor para sermos felizes. Enquanto nós nos divertimos aqui, o senhor está trabalhando, de sol a sol, para nos proporcionar comodidade. Não temos, paizinho, meio de lhe pagar, pois é grande demais seu sacrifício. Mas nós, seus filhos, compreendemo-lo e o enchemos de carinho e cuidados, pois achamos que esta é a melhor maneira de agradecer a um pai. Por que não vem aqui pelo menos por uns dias? Não sabe a tristeza que me dá quando vejo as outras meninas felizes com seus papais. Por favor, venha, pois nós o temos tão pouco durante o ano!”
e de meus irmãos, mais mil beijos e carinhos desta sua filha que mais lhe quer e que se lembra a cada momento de seu paizinho querido.”
O Pai, por sua vez, mostra a reciprocidade do afeto, numa carta escrita depois de a ter autorizado a entrar no Carmelo:
“Minha filhinha querida, recebi as duas cartas pelo que muito te agradeço, embora me façam tanto sofrer, ao pensar que quem me escreve e que me toca desta forma a alma vai se separar de mim para sempre. Mas o sacrifício está feito e eu o ofereci a Deus para que me perdoe por aquilo em que eu O tenha ofendido na minha vida. E como o sacrifício é tão grande, Ele o vê e o terá em conta.
“Minha querida filhinha, não sabes o bem tão grande que tuas cartas me fazem, não só agora, mas antes mesmo de tua resolução, porque via nelas tanto carinho e ternura. Elas me deram nova vida e desejo de trabalhar por teus irmãos (…)
“Feliz, tu, mil vezes, minha filhinha, que te consideras feliz e sentes essa paz de alma que tão poucos podem sentir e que há tanto tempo foge de mim. Só desfruto algo dela depois das férias que passamos juntos na intimidade (…)
“Não creias em nenhum momento, minha querida filhinha, que me tenha arrependido de haver-te dado meu consentimento. Muito pelo contrário. Pois creio que as preces de uma alma tão pura como a tua serão ouvidas por Deus, e elas me acompanharão o resto de minha vida e serão meu melhor refúgio para me preservar dos muitos perigos. E não te esqueças jamais que meu pensamento te acompanhará noite e dia (…) Que Deus me mande todas as provas e sofrimentos e os afaste de ti.
“Não te canses, minha filhinha, de continuar pedindo por teu pobre papai… Para ti, um milhão (de beijos e abraços) de teu pai que não te esquece um instante.”
As graças místicas iluminaram toda a sua vida
Aos dez anos a pequena Juanita fez sua Primeira Comunhão. Desde então, como ela revelou a seu confessor, o Pe. Antonio Falgueras, SJ, “Nosso Senhor me falava depois de comungar; dizia-me coisas das quais eu não suspeitava. E quando eu Lhe perguntava, me revelava coisas que iam suceder e que de fato aconteciam. Mas eu achava que ocorria o mesmo com todas as pessoas que comungavam.”
Em carta a seu pai, pedindo permissão para ser carmelita, narra: “Desde pequena amei muito a Santíssima Virgem, a quem confiava todos os meus assuntos. Só com Ela me desafogava. Ela correspondeu a esse carinho; protegia-me, e escutava sempre o que eu lhe pedia. E ela me ensinou a amar Nosso Senhor (…) Um dia (…) ouvi a voz do Sagrado Coração que me pedia que eu fosse toda d’Ele. Não creio que isso tenha sido uma ilusão, porque nesse mesmo instante me vi transformada: aquela que procurava o amor das criaturas, não desejou senão o de Deus.”
Já no Carmelo de Los Andes, escreve ao Padre Colom, SJ: “Também Nosso Senhor se apresenta a mim, às vezes, interiormente e me fala. Durante aproximadamente uma semana, vi-O na agonia, mas de uma maneira tal como jamais teria sonhado. Sofri muito, porque essa imagem me aparecia constantemente e me pedia que O consolasse. Depois foi o Sagrado Coração, no tabernáculo, com o rosto muito triste. E, por último, no dia do Sagrado Coração, apresentou-Se a mim com uma ternura e beleza tal que minha alma se abrasava em seu amor.”
Escrava de Maria, grandes provações
A jovem Juanita ingressou no convento de Los Andes no dia 7 de maio de 1919, tomando o nome de Irmã Teresa de Jesus. Fez votos de pobreza, obediência e castidade em 27 de junho e recebeu o hábito de noviça em 14 de outubro do mesmo ano. No dia 8 de dezembro, consagrou-se como escrava de Maria, segundo o método ensinado por São Luís Grignion de Montfort. Doravante, seus atos e sacrifícios seriam todos para Nossa Senhora. “Combinei com a Santíssima Virgem que Ela passasse a ser meu sacerdote, que me oferecesse a cada momento pelos pecadores e pelos sacerdotes, mas banhada com o sangue do Coração de Jesus” – escreveu.
No curto tempo passado por Juanita no convento, sua superiora, com um extraordinário senso das almas, determinou que continuasse seu apostolado por meio de cartas à sua família e às suas amigas. Os resultados não se fizeram esperar. Sua mãe se fez terciária carmelita. Sua irmã menor, Rebeca, ingressou no mesmo convento, meses após a morte da Irmã Teresa. Várias de suas amigas, moças da melhor sociedade, tinham por ela tal estima e admiração que decidiram também consagrar suas vidas a Jesus, no Carmelo ou em outros institutos religiosos. Atravessando crises e ambientes adversos, perduram até hoje os efeitos de seu bom exemplo, atraindo muitas jovens para a vida contemplativa e para as atividades de apostolado leigo na sociedade.
No dia 1º de abril de 1920, a Irmã Teresa adoeceu gravemente. Ante a iminência de sua morte, e dada a santidade de sua vida, a Superiora permitiu que fizesse os votos de carmelita professa e Esposa de Cristo, in articulo mortis, no dia 7 desse mês.
Mas estavam por vir as grandes provações espirituais que uma vítima expiatória costuma receber. Quis Deus que ela, como outros santos, sofresse a terrível sensação de ter sido não só abandonada mas condenada por Ele. Assim, ardendo em febre, fazia esforços para retirar seu escapulário e afastar os objetos de piedade que a rodeavam. Num tom de voz acabrunhador, exclamou: “Nunca pensei que a Santíssima Virgem fosse me abandonar!”. Depois de certo tempo de luta terrível, foi-se acalmando aos poucos, até que num momento disse sorrindo, como se tivesse uma visão: “Meu esposo!” … Morreu suavemente três dias depois, em 12 de abril de 1920.
De forma inesperada, o povo da cidade de Los Andes ocorreu em grande número ao velório dessa até então desconhecida freira, que vivera apenas nove meses no Carmelo. Todos pediam para tocar seus objetos de piedade no corpo da “santa”, todos recebiam graças de paz, de benquerença, de afervoramento e de piedade.
Em 3 de abril de 1987, S.S. João Paulo II beatificou a Irmã Teresa. Sua fama de santidade cresceu de forma impressionante no Chile e em todo o mundo, sem que ninguém se preocupasse em difundi-la. Por fim, o mesmo Papa a canonizou, no dia 21 de março de 1993.
Santa Teresa de Jesus dos Andes, rogai por nós!
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