Logo no início do seu “Caminho de perfeição”, obra dedicada às suas monjas, Santa Teresa de Jesus explica a razão de ser da vida carmelitana, admoestando com firmeza aquelas que não cumprirem o que ficou dito. Diz ela: “Se vossas orações e desejos, penitências e jejuns não se empregarem no que deixei indicado, ficai certas de que não realizais nem cumpris o fim para o qual o Senhor vos reuniu aqui” (Caminho de perfeição 3, 10). E qual seria, então, essa finalidade, essa razão principal de se retirar do mundo e viver uma vida enclausurada no Carmelo? Qual foi o sentimento que moveu o coração da santa e que a levou a fazer tantas fundações?
No capítulo 3 da mesma obra ela já havia dito às suas filhas:
“Peço-vos, por amor de Deus, rogai a Sua majestade que nos atenda. Eu, embora indigna, peço-o a sua majestade, pois é para Sua glória e bem de sua Igreja que estão dirigidos os meus desejos” (Caminho de perfeição 3, 6).
E, mais adiante, continua falando ao Senhor em oração:
“Olhai, Deus meu, para os meus desejos e as lágrimas com que vos faço esta súplica! Esquecei-vos das minhas obras, por quem sois! Lastimai tantas almas que se perdem e favorecei a vossa Igreja!… Parece atrevimento pensar em contribuir de algum modo para alcançar isto, mas confio, ó meu Senhor, nestas vossas servas que aqui estão. Sei que nada querem ou pretendem a não ser contentar-vos” (Caminho de perfeição 3, 9).
Sim, Santa Teresa deixa claro em seus escritos que não traz em si outra intenção senão a glória do Senhor e a salvação das almas. Ainda no início da mesma obra ela diz: “Não deixa de partir-me o coração ao ver como se perdem tantas almas. Quisera eu não ver mais perdas cada dia e, ao menos, impedir em parte o mal” (Caminho de perfeição 1, 4).
E, em seguida, ela traz: “Ó minhas irmãs em Cristo! Ajudai-me a suplicar isto ao Senhor, já que para este fim vos reuniu aqui. Esta é a vossa vocação. Estes hão de ser vossos negócios. Estes, vossos desejos. Aqui se empreguem as vossas lágrimas” (Caminho de perfeição 1, 5).
Vejamos, então, o que há no coração de nossa Santa madre: um desejo forte, sincero, de que o Senhor seja glorificado e de que não se percam mais almas, o desejo da salvação das almas para a glória de Deus. Trazendo esta motivação, doou sua vida sem reservas. E o fez enclausurada. Embora a dedicação às fundações dos mosteiros a tenha feito percorrer caminhos e ausentar-se dos claustros enquanto houvesse necessidade, foi na vida de clausura e através da oração que encontrou meios para realizar aquele desejo de que falamos.
Em suas inúmeras obras, Santa Teresa se apresenta como uma mulher que possui um amor zeloso pela Santa Igreja, uma fé viva na comunhão dos santos e grande confiança no poder da oração. Em seus atos ela demonstrou o quanto compreendeu o que o Senhor nos diz através do apóstolo “vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um de seus membros” (I Cor 12, 27). A oração que Santa Teresa ensina às suas filhas envolve toda a Igreja, significa participação no corpo místico de Cristo, não pode ser vivenciada de modo individualizado e nos possibilita alcançar, pelos méritos de Cristo, as graças para os que mais necessitam. O fruto da oração recai sobre a Igreja, sobre as almas, sobre os mais necessitados, sobre os pregadores, missionários, os enfermos, agonizantes, enfim, sobre todo o povo de Deus e sobre toda a humanidade.
“Haverá melhor oração do que esta?” (Caminho de perfeição 3, 6). Que melhor oração há do que aquela que salva, ao menos, uma alma?
A vida carmelitana é vida de oração. A isso nos convida Santa Teresa. Com um coração cheio de fé, possuía a certeza de que poderia contribuir para a salvação das almas. Podemos nos lembrar de uma de suas filhas, Santa Teresinha do Menino Jesus, que mais de 300 anos depois, aprendeu e viveu a mesma vida carmelita de sua fundadora: nunca saiu para pregar, jamais evangelizou terras estrangeiras, mas nas mãos de Deus tornou-se um poderoso instrumento de conversão, de salvação, de missão, a tal ponto de a Igreja a proclamar Padroeira das Missões.
Vivemos, portanto, nesta abrangência ilimitada que a oração nos permite. A partir do Carmelo extrapola-se os limites dos espaços, espalha-se o bem sobre a humanidade, enfim, salva-se almas. É o próprio amor de Cristo que nos capacita a isto, é quem nos torna operantes em seu corpo e nos permite abraçar, com o coração, o mundo inteiro.
“Quando entrei no Carmelo, encantada com a beleza e profundidade da vida carmelitana, fui incentivada a cada vez mais viver numa profunda intimidade com Deus, e despertou-se em mim o desejo de que também em minha diocese houvesse um Carmelo, e que este atraísse muitas almas para Ele.”
Estas são as palavras da Ir. Maria do Carmo de Cristo Rei, fundadora-idealizadora do Carmelo de Franca, que trazia há muitos anos o desejo de que houvesse um Carmelo em sua diocese de origem, a diocese de Franca.
Tendo entrado inicialmente no Carmelo em Mogi das Cruzes, trazia em si este desejo que era algo tão forte que tomava conta de seu coração e sua mente. Ela nos contou que diversos bispos de Ribeirão Preto, que desejavam o Carmelo, ou eram transferidos, ou morriam sem concretizar o feito, ou esqueciam o assunto. Foram anos de silêncio de Deus e ela esperava a hora de sua divina vontade se manifestar.
Entretanto, nosso Deus nos presenteou. O mesmo desejo estava também no coração do nosso querido Bispo Dom Diógenes Silva Matthes, primeiro bispo de Franca. Ele desejava trazer o Carmelo para o coração da diocese de modo que fosse um oásis de oração, uma ajuda orante para os sacerdotes e para todo o povo de Deus. Dom Diógenes fez o pedido da fundação para os superiores da Ordem e foi aceito. O Provincial do Carmelo naquele ano era o Frei Patrício Schiadini, OCD.
Nosso Bispo Dom Diógenes procurou o Carmelo de Cotia e lá recebeu a esperada ajuda para a fundação. Este Carmelo estaria à frente da nova fundação. Madre Maria Raimunda dos Anjos, natural de Ituverava- SP, cidade pertencente à diocese de Franca, viria à frente desta fundação! Ao longo dos anos se demonstrou como uma carmelita fervorosa, cheia de zelo pela observância carmelitana e de uma dedicação sem igual à comunidade, não se poupou nos serviços da casa e na generosidade e doação a Deus e às irmãs. Era muito estimada por todas! Era sempre fiel. Amava muito nossa Ordem.
Após feita a escolha das irmãs fundadoras, que também vieram de outros Carmelos, estas se reuniram em fevereiro de 1987, no Carmelo de Cotia, para se conhecerem e elaborarem os costumes do Carmelo nascente. Permaneceram ali por sete meses. Às nossas irmãs fundadoras, a nossa gratidão.
"O Tabernáculo. Só a lâmpada vos faz companhia. Ela me lembra sem cessar isto que eu deveria ser e fazer por vós neste medonho deserto desta vida, esperando ser recebida eternamente na plenitude de vossa solidão, ó meu Deus a quem neste momento eu adoro, em quem eu repouso e gozo..."
O Terreno para a construção do atual mosteiro definitivo foi doado pelo querido Dr. Fábio Meireles e sua esposa Ivelle. O novo mosteiro foi erguido aos poucos, com a ajuda generosa do povo francano e de outros colaboradores de outras localidades e instituições de caridade.
Desta maneira, em 2023 completamos 36 anos de fundação e estamos gratas ao Senhor por nos ter convocado à esta vocação de oblação em favor do povo de Deus. Bendito seja o Senhor por esta diocese!
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