O amor fraterno é um dos 3 elementos que Santa Teresa elenca como fundamento para a vida de oração. Prestes a iniciar os ensinamentos sobre oração, ela diz: “Antes de falar do interior, que é a oração, direi algumas coisas que são necessárias às que pretendem ir por este caminho… Alongar-me-ei em declarar somente três… uma é o amor de umas para com outras, outra, o desapego das coisas criadas e a terceira, a verdadeira humildade” (Caminho de perfeição 4, 3).
A Santa Madre nos diz, então, que a vivência do amor fraterno é item essencial a que deve se dedicar aqueles que pretendem ter oração e que buscam o encontro com Deus. “…a verdadeira perfeição consiste no amor de Deus e do próximo e quanto mais formos fiéis em guardar este duplo preceito, mais seremos perfeitas. Nossa Regra e nossas Constituições são apenas meios para o cumprir mais perfeitamente” (Castelo interior 1M 2, 17).
Em perfeita conformidade com o Evangelho, o Caminho de perfeição nos indica como será a vida comum das irmãs. Em uma comunidade fundamentada no amor divino, o Senhor é o centro das recreações e conversações e as necessidades das outras irmãs são colocadas antes das nossas próprias. “Procurai também recrear-vos com as irmãs, quando [elas] têm necessidade de recreação e no tempo em que é costume, ainda que não seja de vosso gosto, porque, indo com prudência, tudo é perfeito amor… Oh! que bom e verdadeiro amor será o da irmã que pode aproveitar a todas, deixando o seu próprio proveito pelo das outras” (Caminho de perfeição 7, 7).
De acordo com Santa Teresa, vivendo dentro da clausura, não deverá ser coisa muito difícil o amar-se mutuamente entre as irmãs, pois “que gente haverá tão rude que não se ganhe mútuo amor estando em contínuo trato e vivendo juntas e não tendo outras conversações nem outros tratos com pessoas de fora de casa e crendo que Deus nos ama e elas a Ele, pois, por Sua Majestade, deixaram tudo?” (Caminho de perfeição 4, 10).
Entretanto, não nos iludamos. Este amor que se espera que seja vivido nestas casas onde o Rei têm sua morada não é diferente daquele amor abnegado que levou Nosso Senhor a carregar a cruz. O amor que Santa Teresa nos indica é um amor que comporta a renúncia de si mesmo, amor sobrenatural, em suas palavras, ‘amor espiritual’ que nada tem a ver com essas ‘afeições que usurpam o nome de amor’ que se baseiam em ‘honras, riquezas e deleites’. Certamente precisaremos contar com a força de Deus para pôr a caridade em obras, o Espírito Santo é aquele que nos capacita a amar. Um coração cheio de sua presença saberá colocar os próprios interesses em segundo plano e, tomado os fardos dos demais sobre si, realizar uma convivência cotidiana fraterna.
No Carmelo há muitas oportunidades para ‘provar’ o amor, como diria Santa Teresinha. Vive-se como família, todas compartilham os mesmos espaços, fazem muitas atividades em conjunto. As diferenças de idade e outras características da individualidade pessoal de cada irmã são fatores que também enriquecem a convivência e permitem que o Carmelo seja um rico celeiro de virtudes. “A caridade não deve ficar encerrada no fundo do coração” (Santa Teresinha do Menino Jesus em Manuscrito autobiográfico C, 12r).
A rotina carmelitana dedica um espaço todo especial para o convívio fraterno, trata-se do recreio teresiano, momento em que as irmãs podem livremente se entreter, compartilhar sua alegria, enfim, recrear-se livremente. Aqui há grande ocasião para exercitar o amor. Santa Teresa nos ensina, ainda, diversas outras ações que podemos tomar e que são incentivos para uma boa vivência fraterna entre as irmãs: tomar o serviço de outras para si, procurar não notar faltas alheias, alegrar-se muito ao ver nelas virtudes, enfim, esquecer-se do próprio bem pelo bem das demais. Nos diz que essa busca constante das virtudes, todos estes nossos esforços, enfim “Todas estas coisas, deixando de parte o grande bem que trazem consigo, ajudam muito à paz e conformidade de umas com as outras.” (Caminho de perfeição 7, 9).
O Evangelho nos fez conhecer que o sinal mais certo para sabermos se trazemos em nós o amor divino é a prática do amor ao próximo. Vivemos nesta dupla busca. É o próprio Amor de Deus que, agindo em nós, nos torna capazes de amar.
“Estais certas de que, quanto mais vos virdes aproveitadas [no amor ao próximo], mais o estais no amor de Deus” (Castelo interior 5M 3, 8).