Carmelo de Santa Teresa e Santa Myriam de Jesus Crucificado

Nossa Vida

Carmelo de Santa Teresa e Santa Myriam de Jesus Crucificado

Clausura

A experiência eloquente da clausura nos comove de tal maneira e poderá, certamente, desconcertar todo indivíduo que desconheça a força do Evangelho. Tenhamos a seguinte certeza: esta vocação, jamais se entenderá sem fé. Além da vocação, a fé é o elemento essencial para se viver enclausurada.

A vida em clausura é um testemunho de quem crê que Jesus Cristo basta, que ele é a alegria verdadeira, que estar com Ele compensa tudo o que há, é um verdadeiro ‘perder para ganhar’. Pessoalmente, podemos dizer: vida melhor não há. É a vida feliz do reino já começado, de quem renuncia à liberdade pessoal e a consagra toda a Deus. Separa-se do mundo exterior, limita-se seu espaço de circulação, abre-se mão da convivência com familiares e amigos, procura-se o silêncio. O ambiente da clausura é uma facilitação para a vida interior, para a busca e escuta de Deus. Abre-se para o encontro com Deus.

Carmelo de Santa Teresa e Santa Myriam de Jesus Crucificado

Silêncio

O silêncio do Carmelo é oracional, é o meio pelo qual dispomos a nossa alma à presença de Deus, que é o ator principal de nossas vidas. Queremos doar a nossa atenção a Ele. “Queremos ver a Deus”, como disse Santa Teresa. Para vê-lo, ouvi-lo, enfim, nos comunicarmos com Ele, precisamos silenciar o mundo interior, porque é no íntimo do coração que Ele nos fala. Então, o que fazemos é silenciar as nossas ansiedades, preocupações para, em meio às tarefas de cada dia, nos dispormos à presença de Deus que nos habita.
Ouçamos a carmelita Santa Elisabete da Trindade: “O Criador, vendo o belo silêncio que reina em sua criatura, ao contemplá-la totalmente recolhida em sua solidão interior fica encantado com sua beleza, e a instala naquela solidão imensa, infinita, naquele lugar espaçoso cantado pelo Profeta. Este lugar é Ele mesmo: ‘Entrarei nas profundezas do poder de Deus.”
Falando o Senhor por seu profeta, diz: ‘Conduzi-la-ei à solidão e falar-lhe-ei ao coração’. E a alma entra nessa imensa solidão, na qual Deus se fará ouvir” (Último retiro, 27). Santa Teresa também nos dá muitos incentivos para que nos exercitemos nesta atividade de silenciar o nosso interior. Ela diz: “Aquelas que desta maneira se puderem encerrar neste pequeno céu da nossa alma, onde está Aquele que o fez, e também a terra, e se acostumarem a não olhar nem estar onde se distraiam estes nossos sentidos exteriores, creiam que levam excelente caminho e que não deixarão de chegar a beber a água da fonte, porque caminham muito em pouco tempo.” (Caminho de perfeição 28, 5). A vida em clausura favorece o silêncio. Mas é o silêncio interior que estamos buscamos. Não devemos presumir que seja tarefa fácil silenciar o nosso íntimo para nos dispormos ao Senhor. Santa Teresa, em seus escritos, descreve o quanto deve a alma se esforçar por entrar em si mesma, ela nos traz seu próprio relato a respeito das dificuldades que encontrou e não omite que se trata de uma atividade ascética: “Quem o quiser adquirir [o recolhimento], que não se canse de se acostumar ao que fica dito, pois, como digo, está na nossa mão. Pois nada se aprende sem um pouco de trabalho, por amor de Deus, irmãs, dai por bem empregado o cuidado que nisto dispensardes” (Caminho de perfeição 29, 7). A oração não consiste em pensar ou em esvaziar o pensamento, antes, é um encontro com Deus que se dá a partir do amor e da humilde disposição diante de Deus. O silêncio interior de quem ora é um esvaziamento sincero diante do Senhor. Não estamos atentas a nada, senão a Ele. “Se eu quiser que a minha cidade interior seja, de algum modo, semelhante e parecida com a do “Rei imortal dos séculos”, e receba a grande iluminação de Deus, é preciso que eu apague todas as outras luzes e que, como na Cidade Santa, o Cordeiro seja a sua única lâmpada” (Elizabete da Trindade em Último retiro, 9). Tudo no Carmelo evoca a presença do Senhor e aqui ele nos fala de muitas maneiras. Cremos que Jesus nos habita e que ele é o tesouro valioso pelo qual deixamos tudo. Não haveremos de estar atentas e dispostas quando ele nos dirigir sua voz? Certamente vale a experiência de procurarmos nos desembaraçar de nós mesmos para nos colocarmos em silêncio.
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Oração

A Santa Igreja proclamou Santa Teresa Doutora e mãe de espiritualidade. Ela nos deixou um tesouro rico e completo em ensinamentos práticos a respeito da oração. Ninguém mais do que suas filhas carmelitas terão o encargo de conhecê-lo e vivenciá-lo.
“…todas as que trazemos este hábito sagrado do Carmo somos chamadas à oração e contemplação (porque este foi nosso princípio, descendemos daqueles santos padres do Monte Carmelo, que estavam em tão grande solidão e com tanto desprezo do mundo buscavam este tesouro, esta pérola preciosa de que falamos [a contemplação]” (Castelo interior 1 , 2).
A oração é a atividade principal da carmelita. Durante todo o dia ela busca a comunhão com Deus, tudo o que faz é ofertado através da oração em intenção pelo povo de Deus. Faz-se oração comunitário em união com toda a Igreja. Participa-se da Santa missa diariamente. A capela do Santíssimo está inserida entre as celas das monjas. Vive-se em oração.
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Vida Comum

O amor fraterno é um dos 3 elementos que Santa Teresa elenca como fundamento para a vida de oração. Prestes a iniciar os ensinamentos sobre oração, ela diz: “Antes de falar do interior, que é a oração, direi algumas coisas que são necessárias às que pretendem ir por este caminho… Alongar-me-ei em declarar somente três… uma é o amor de umas para com outras, outra, o desapego das coisas criadas e a terceira, a verdadeira humildade” (Caminho de perfeição 4, 3).
A Santa Madre nos diz, então, que a vivência do amor fraterno é item essencial a que deve se dedicar aqueles que pretendem ter oração e que buscam o encontro com Deus. “…a verdadeira perfeição consiste no amor de Deus e do próximo e quanto mais formos fiéis em guardar este duplo preceito, mais seremos perfeitas. Nossa Regra e nossas Constituições são apenas meios para o cumprir mais perfeitamente” (Castelo interior 1M 2, 17).
Em perfeita conformidade com o Evangelho, o Caminho de perfeição nos indica como será a vida comum das irmãs. Em uma comunidade fundamentada no amor divino, o Senhor é o centro das recreações e conversações e as necessidades das outras irmãs são colocadas antes das nossas próprias. “Procurai também recrear-vos com as irmãs, quando [elas] têm necessidade de recreação e no tempo em que é costume, ainda que não seja de vosso gosto, porque, indo com prudência, tudo é perfeito amor… Oh! que bom e verdadeiro amor será o da irmã que pode aproveitar a todas, deixando o seu próprio proveito pelo das outras” (Caminho de perfeição 7, 7).
De acordo com Santa Teresa, vivendo dentro da clausura, não deverá ser coisa muito difícil o amar-se mutuamente entre as irmãs, pois “que gente haverá tão rude que não se ganhe mútuo amor estando em contínuo trato e vivendo juntas e não tendo outras conversações nem outros tratos com pessoas de fora de casa e crendo que Deus nos ama e elas a Ele, pois, por Sua Majestade, deixaram tudo?” (Caminho de perfeição 4, 10).
Entretanto, não nos iludamos. Este amor que se espera que seja vivido nestas casas onde o Rei têm sua morada não é diferente daquele amor abnegado que levou Nosso Senhor a carregar a cruz. O amor que Santa Teresa nos indica é um amor que comporta a renúncia de si mesmo, amor sobrenatural, em suas palavras, ‘amor espiritual’ que nada tem a ver com essas ‘afeições que usurpam o nome de amor’ que se baseiam em ‘honras, riquezas e deleites’. Certamente precisaremos contar com a força de Deus para pôr a caridade em obras, o Espírito Santo é aquele que nos capacita a amar. Um coração cheio de sua presença saberá colocar os próprios interesses em segundo plano e, tomado os fardos dos demais sobre si, realizar uma convivência cotidiana fraterna. No Carmelo há muitas oportunidades para ‘provar’ o amor, como diria Santa Teresinha. Vive-se como família, todas compartilham os mesmos espaços, fazem muitas atividades em conjunto. As diferenças de idade e outras características da individualidade pessoal de cada irmã são fatores que também enriquecem a convivência e permitem que o Carmelo seja um rico celeiro de virtudes. “A caridade não deve ficar encerrada no fundo do coração” (Santa Teresinha do Menino Jesus em Manuscrito autobiográfico C, 12r). A rotina carmelitana dedica um espaço todo especial para o convívio fraterno, trata-se do recreio teresiano, momento em que as irmãs podem livremente se entreter, compartilhar sua alegria, enfim, recrear-se livremente. Aqui há grande ocasião para exercitar o amor. Santa Teresa nos ensina, ainda, diversas outras ações que podemos tomar e que são incentivos para uma boa vivência fraterna entre as irmãs: tomar o serviço de outras para si, procurar não notar faltas alheias, alegrar-se muito ao ver nelas virtudes, enfim, esquecer-se do próprio bem pelo bem das demais. Nos diz que essa busca constante das virtudes, todos estes nossos esforços, enfim “Todas estas coisas, deixando de parte o grande bem que trazem consigo, ajudam muito à paz e conformidade de umas com as outras.” (Caminho de perfeição 7, 9). O Evangelho nos fez conhecer que o sinal mais certo para sabermos se trazemos em nós o amor divino é a prática do amor ao próximo. Vivemos nesta dupla busca. É o próprio Amor de Deus que, agindo em nós, nos torna capazes de amar. “Estais certas de que, quanto mais vos virdes aproveitadas [no amor ao próximo], mais o estais no amor de Deus” (Castelo interior 5M 3, 8).
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Espiritualidade

Há muitos meios que podemos utilizar para tentar compreender melhor o conjunto majestoso que forma a rica espiritualidade carmelita, vivida e transmitida há tantos séculos pelos antigos homens e mulheres de oração. Entendamos a partir de Maria Santíssima. Vamos olhar para ela, a Rainha do Carmelo, a senhora do Carmo. Pensemos no coração de Maria como um jardim maravilhoso onde Deus habita. Santa Teresa utiliza essa imagem de um horto em seu Livro da vida – obra em que narra seu próprio crescimento espiritual, e diz que nossa alma é como esse jardim e nossa missão é cultivá-lo, cuidar dele, para que o Senhor da horta venha passear e se recrear. A Santa Madre utiliza sempre estes artifícios para a oração, a ajuda muito representar Jesus como este ‘Hortelão’, e compreender as virtudes da alma como flores bem perfumadas que o agradam, enquanto nós somos os que trabalhamos nesta horta. Nos voltemos à Maria Santíssima. Vejamos a imensa quantidade de flores, tão belas e delicadas que há em semelhante jardim, os perfumes sublimes que exala. Cheia de graça e virtudes, qual não será a alegria do Senhor ao caminhar neste ‘horto de deleites’! A espiritualidade do Carmelo vislumbra uma subida, a subida do Monte Carmelo. A partir do desprendimento de tudo o que não é Deus, busca-se a união com Ele, até que a nossa alma seja este jardim das delícias de Deus, a exemplo de Maria. A Virgem Santíssima é o ideal sublime de mulher de oração. Toda a vida carmelita está fundamentada sobre a oração, é o que possibilita a subida de que falamos. A oração para a carmelita é um entreter-se com Deus, exercício de amizade com ele, atividade principal de sua vida na qual deve perseverar com ‘grande e determinada determinação’ até que chegue a estar “feita uma mesma coisa com Ele em união” (Caminho de perfeição 31, 2).